Hoje estivemos a resgatar um pombo trazidos por uns miúdos da escola em frente. Foi tratado por uma estudante do 5º ano de medicina veterinária, que tem estado connosco desde há 1 ano e meio. Adora aves e passou o verão todo do ano passado num centro de recuperação de animais silvestres e o deste ano num hospital só de animais exóticos no Porto. Já resgatou diversas aves silvestres.
Sobre o caso de hoje ela escreveu o seguinte texto:
Este Pombo-das-rochas (Columba livia) foi resgatado por alunos de uma Escola, que o encontraram atado pela pata esquerda a um ramo de árvore no qual terá estado durante mais de um dia.
Inicialmente, apresentava-se em choque, com a asa direita lesionada com algumas penas em falta, e com a pata esquerda muito inchada e inflamada.
Após limpeza da asa, encontrei algumas lacerações; Além disto, a zona perto da articulação correspondente ao pulso encontrava-se muito inchada e quente e, como concluí após um exame mais cuidado, fracturada. Foi efectuado um raio-x para confirmação do diagnóstico.
De seguida, foi administrado o tratamento de suporte ao animal: Soro glicosado PO (oralmente) e duas injecções, um anti-inflamatório e um analgésico. Como o animal se encontrava ainda muito nervoso, apenas foi feita a fluidoterapia mais tarde.
Assim que o paciente estabilizou e se apresentou mais calmo, terminei o curativo da sua asa: uma pomada cicatrizante com um pequeno penso por cima para a manter no local, seguida da imobilização da asa com um penso misto. O penso misto consiste na fusão de duas técnicas de imobilização de asas, a ligadura em 8, e a ligadura-de-asa-ao-corpo. Com isto, pretendo que durante os próximos dias a ave não mova o membro, de forma a que a sua fractura possa ossificar e a sua asa volte ao normal.
O Pombo ficará agora durante os próximos dias ao cargo dos seus cuidadores, tempo durante o qual deverá repousar, ao fim do qual voltará para observação e, se tudo se encontrar bem, será devolvido à Natureza.
—
O Pombo-das-rochas (Columba livia), é um membro da família Columbidae. A nível de morfologia, verifica-se uma grande variação no seu padrão, podendo abranger um leque de cores, que no mundo da columbofilia são alvo de muita atenção e chegam mesmo a ser um indicador de performance do animal.
A distinção entre macho e fêmea é difícil, sendo no entanto possível com alguma prática.
São animais monogà¢micos, e geralmente têm dois filhotes por ninhada que são cuidados por ambos os pais.
O seu habitat natural é muito diverso, incluindo ambientes tanto abertos como semi-abertos. Costumam utilizar brechas entre rochas para nidificar, quando na natureza.
São criados na Ásia desde a Antiguidade, existindo representações de pombos datadas de 4.500 aC na Mesopotà¢mia. Com o tempo, a fascinação por este animal, especialmente como portador de mensagens e depois a nível desportivo, cresceu. Existe agora uma grande comunidade columbófila mundial de pessoas que partilham o interesse por este animal, sendo a Bélgica o país com a maior sociedade.
Este interesse deve-se ao sentido de orientação aguçado que esta ave possui, e ao tipo de voo muito próprio (são uma das poucas aves com um voo rectilíneo). O sentido de orientação deve-se ao sistema de localização complexo que possuem, uma vez que utilizam tanto a posição do sol, como os marcos geográficos do terreno, campo electromagnético e o próprio ruído do local para determinarem onde se encontram e voltarem ao local que memorizaram como “casa”.
Actualmente, são mais vistos como animais sinantrópicos. Uma vez que não existem predadores nas grandes cidades e a sua reprodução é muito rápida, a população gerada é cada vez maior, causando problemas ambientais ao Homem, e sendo vistos como praga.
Este facto é exacerbado pela alimentação incorrecta que as pessoas lhes fornecem, eliminando a sua necessidade de procurar alimento e levando à sua multiplicação exponencial.
No entanto, a forma de resolver este problema passa por uma alteração de hábitos humanos, e não pela eliminação dos pombos existentes. Actos de violência animal como a que levou à admissão deste paciente não irão reduzir a população que existe nas cidades, sendo apenas um acto de crueldade.

Raio-X
Os animais selvagens não devem ser alimentados, uma vez que não só não lhes conseguimos fornecer a alimentação adequada como estamos também a domesticá-los e a retirar-lhes os hábitos naturais de busca de alimento. Propiciamos assim a que estas situações se tornem mais frequentes, uma vez que os animais perdem o medo “saudável” que deveriam ter de humanos e se tornam mais facilmente vítimas de envenenamento ou violência.
Além do mais, terão uma tendência para se aproximar mais de humanos e, assim como nem todas as pessoas serão bem-intencionadas, nem todas as pessoas querem essa proximidade com animais selvagens.