Os coelhos são pequenos herbívoros, com um sistema digestivo bastante diferente do cão ou do gato. Têm um estômago bastante ácido e cujo formato impede o vómito e permite armazenar alimento. Têm um intestino (cólon e ceco) muito desenvolvido onde ocorre a fermentação das ervas (as bactérias aí presentes fazem a digestão da celulose das ervas por fermentação).
Tendo em conta estas características dos coelhos, se a dieta destes animais for pobre em fibra, o trânsito intestinal diminui significativamente, podendo mesmo parar, situação denominada de “íleo paralítico”. Quando tal acontece, o estômago e o ceco não esvaziam, ficando impactados (demasiado cheios). Para além disso, as dietas pobres em fibras levam à produção de substâncias (ácidos gordos voláteis) que alteram o ambiente do intestino (pH e flora). Todas estas alterações modificam o processo de fermentação (digestão), com produção de muito gás que se acumula nos intestino, causando distensão abdominal, desconforto e dor ao animal. Numa fase inicial, os coelhos procuram mais feno, podendo até comer papel se o encontrarem. A seguir as fezes diminuem de quantidade, tamanho e tornam-se menos frequentes. A evolução é depois muito rápida, com perda de apetite (anorexia), obstrução intestinal (ausência de fezes), desidratação, apatia, distensão abdominal, dor, estado de choque e dor.
O diagnóstico é feito pela história do animal, exame físico e exames complementares (raio x/ecografia abdominal).
Para além de ser necessária uma dieta apropriada, rica em fibra, com vegetais frescos e feno, os donos destes animais devem estar muito atentos, pois a evolução desta doença é muito rápida, podendo culminar com a morte.
O Phoebe é um coelho de ano e meio que veio à consulta por diminuição de apetite e de produção de fezes. Felizmente os donos estavam atentos e trouxeram o coelho antes de chegar à fase de distensão abdominal. Estava portanto numa fase inicial do íleo paralítico, pelo que conseguiu recuperar muito bem.